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Mostrando postagens de 2011

FOBÓPOLE: A CIDADE DO MEDO

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Nos últimos dez anos acompanhamos o crescimento da violência nas cidades e em consequência o seu alastramento tomando cidades do interior. Algumas percepções do medo irradiado nas metrópoles passaram a ser preocupação também dos moradores da zona rural ou de cidades mais afastadas das capitais brasileiras. Uma urbanização inconsequente  criou metrópoles tomadas pelo medo, o que um autor cunhou de Fobópole (SOUZA, 2008), ou, cidade do medo, derivadas das palavras gregas phóbos (medo) e polis (cidade). Nelas, as conversas e noticiários da imprensa giram em torno do medo de se tornar mais uma vítima da violência, gerando assim atitudes do Estado e da Sociedade Civil, de forma a reprimir, prevenir ou se defender de um suposto ato violento, ocorrendo conseqüentemente alterações no planejamento da cidade, no seu desenvolvimento e na democracia (Souza, 2008:09). Uma cidade do medo faz com que as pessoas modifiquem seus hábitos diuturnamente, onde os laços sociais são de pouca

UMA RUA CHAMADA VALONGO

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Uma descoberta reacende a discussão de como são mantidos os sítios arqueológicos e históricos no Brasil: a descoberta em março das ruínas do Cais do Valongo no Rio de Janeiro. Com a chegada dos jogos olímpicos de 2016 a cidade passa por uma reforma e a zona portuária é um dos locais que precisam ser embelezados para os nossos turistas. O achado arqueológico foi localizado entre uma praça, o morro da Providência, o Elevado da Perimetral e a Praça Mauá, sob a Av. Barão de Tefé. O Cais do Valongo foi construído em 1758 com o único objetivo de receber os navios negreiros, suas atividades duraram até 07 de novembro 1831, pelo menos oficialmente, quando as leis para “inglês ver” proibiram as importações de escravos. Até 1758 a venda de escravos se fazia ao longo da Rua Direita, a mais antiga do Rio, mas devido ao estado de saúde dos africanos e o medo de contágio por doenças foi construído o Cais para que a “cidade européia” que vivia as expensas do trafico negreiros e do trabalho esc

MEIA NOITE EM PARIS - O VELHO E BOM WOODY ALLEN DE VOLTA.

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Woody Allen conseguiu acertar a mão depois de tantos anos, seu último filme traz a memória os seus melhores momentos e isto reflete nas bilheterias. “Meia Noite em Paris” é o seu filme de melhor bilheteria, batendo depois de tantos anos “Hannah e suas irmãs” (1986). A questão não é que o diretor tenha se afastado da sua melhor forma, mas que volta a ter a simplicidade e o estilo que o marcou principalmente nas décadas de 80 e 90. Brincando com o tempo, o diretor consegue nos levar a refletir sobre qual é a melhor época para se viver: o hoje ou em algum lugar do passado, se você fosse escolher qual a década que queria viver e aonde? Essas são as perguntas chaves para compreender a luta do seu alterego no filme, Owen Wilson, na pele de Gil Pender, um escritor frustrado que não consegue escrever, mas encontra a sua inspiração numa Paris dos anos 1920, pois quando adentra um veiculo à meia noite passa a conviver com vários de seus escritores e artistas favoritos, o que lhe dá inspir

OS JOVENS E A QUESTÃO RACIAL NO BRASIL - SOBRE "PRECIOSA" e "UM SONHO POSSÍVEL".

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Dois filmes que concorreram ao Oscar 2010 fazem uma reflexão sobre a relação do negro com a violência. São eles: “Um sonho possível” e “Preciosa: uma história de esperança”. Em ambos temos dois jovens negros moradores de periferias, com famílias desestruturadas, envolvimento dos parentes com drogas e violência familiar. A única ligação dos dois jovens com a sociedade é a escola, onde apesar de todas as dificuldades eles continuam a freqüentar. Em “Um sonho possível”, o jovem Oher frequenta a escola, com a desconfiança do corpo pedagógico que não vê nele perspectiva de aprendizagem. No filme “Preciosa: uma história de esperança”, a adolescente Clairee “Preciosa” Jones é expulsa da escola(uma expulsão branca). Ao ser “tranferida” para uma escola especial, ela passa a compartilhar a sua dor e ao mesmo tempo lidar com a sua mãe que também a violenta. É na escola que ela inicia sua jornada para uma mudança radical em sua vida marcada pela falta de perspectivas. O preconceito

NEGROS, MÍDIA E VIOLÊNCIA - AS NOTÍCIAS NOS JORNAIS.

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Este texto faz uma reflexão sobre três fatos e suas relações com a mídia, principalmente os jornais, nos três momentos os fatos narrados apesar de estarem separados pelo tempo, motivo e local, não impedem de que haja uma avaliação e uma análise da mídia quanto à importância do negro na sociedade brasileira. Nos três momentos podemos ver como a mídia trabalha a “figura” do negro e como isso é um reflexo de nosso passado escravista, como também do “mito da democracia racial” que está enraizado na cultura brasileira e impede avanços que seriam interessantes para as relações raciais no Brasil. Primeiro caso: em um curso da Policia Civil do Rio de Janeiro em 2008(curso para a Delegacia Legal), uma das boas políticas de segurança pública mantida há décadas pelos governos do RJ, houve em uma palestra a apresentação do negro como traficante e o usuário como branco, além da policia apresentar-se como repressora. Entre desculpas, além da retirada e promessa de “atualização” dos palestra

FAVELAS - A VIOLÊNCIA CONTRA A JUVENTUDE NEGRA

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A violência urbana que atinge aos nossos jovens não os atinge de forma homogênea. O crime no Brasil difere as classes sociais, assim como separa a cor. O crime no Brasil tem endereço certo: as favelas e as regiões periféricas das grandes cidades. Como também tem seu seus principais atores já condicionados pelo habitar e pelo estigma de pertencer a uma “comunidade”, são eles jovens entre 15 e 24 anos, pobres e negros. Pesquisas demonstram que os crimes ocorrem e demandam de acordo com o local, a moradia, o poder aquisitivo e a etnia. Falar sobre violência entre jovens é tocar em feridas mal cicatrizadas e que vão de encontro ao pensamento dominante e do senso comum de que as relações raciais brasileiras sempre foram por assimilação e não por segregação. O mito da democracia racial engendrado na nossa cultura histórica e reproduzido como um mantra durante muitos anos nos livros didáticos cai por terra quando analisamos todo o contexto atual em que morrem essa massa de jovens das p

Estado e Pobreza

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Estamos assistindo neste final do milênio a uma das suas últimas revoluções, esta não só mudou a cara do mundo, mas adentrou residências, modificou hábitos e fez com que o mundo se tornasse pequeno: a revolução da informática. Ela não vem sozinha, mas acompanhada do processo de globalização que fez com que uma grande parte dos países iniciassem mudanças estruturais em áreas governamentais. No Brasil não é diferente, mesmo com a resistência de parte da classe política, o que vemos é que adentraremos o próximo milênio com o paradigma do Estado Nação x Estado mínimo. Aquele estado protecionista que mantinha monopólios(“o petróleo é nosso”) não só pereceu mas fez com que a nova classe política ficasse entre a cruz e a espada, ou melhor, entre o assistencialismo e a reciclagem( terceira via). Os novos governantes não têm como manter o “Estado Mercantilista”, como nos ensina o historiador Jorge Caldeira, em seu último livro, pois o Estado brasileiro não adaptou-se à globalização, embora

OS ESCÂNDALOS DAS PREFEITURAS E A BUSCA DA POLÍTICA

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A saída de Antônio Palocci do governo só vem mostrar no plano macro o que vem ocorrendo em pequenas gotas em todo o país: corrupção, dinheiro público mal utilizado, obras feitas pela metade, prefeitos eleitos por grupos de empresários que depois cobram o preço da eleição, vereadores que não compreendem o seu verdadeiro trabalho e não supervisionam os prefeitos, tribunais de contas presos a cargos políticos, vice-prefeitos que não tem vínculo nenhum com quem lhe elegeu e por isso nem aparece na prefeitura, etc. O que poderia mudar isso seria uma reforma política consistente. Para isso deveríamos discutir como deve ser o financiamento da candidatura, colocar limites na utilização do capital via doações, fiscalização mais forte do TRE e principalmente acabar com o sistema de voto atual que faz com que grupos se alternem no poder, mas renovação quase nenhuma é possível.  Se o voto distrital fosse utilizado teríamos a quem cobrar e por consequência o eleito pensaria duas vezes ante

ABDIAS DO NASCIMENTO: Um Combatente que nunca ensarilhou sua arma.

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Há algumas pessoas que suas carreiras se misturam e entrelaçam com as suas atividades, como se ela não existisse sem aquela ação (sua práxis) e ao analisarmos sua biografia sua luta se confunde com seu próprio caminho, creio que foi assim com Abdias do Nascimento. As suas bandeiras (sim no plural), sua atuação como militante do movimento negro confunde-se com sua própria vida, o que torna quase impossível discernir o ser humano do “homem político”. Assim, em vez de buscar o homem político e destaca-lo escondendo o ser humano, preferi assistir ao documentário que se encerra como uma homenagem a Abdias do Nascimento, mas nos mostra o testemunho ainda em vida do homem que se confunde com sua própria trajetória.  Abdias do Nascimento nasceu a 14 de março de 1914 na cidade de Franca em São Paulo e faleceu em 24 de maio de 2011. A sua primeira experiência de solidariedade racial aconteceu quando sua mãe interviu junto a uma senhora que surrava um menino negro que perambulava pelas ru

Treze de Maio: O espelho que só reflete o que queremos ver.

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O 13 de maio traz em si uma discussão sobre a tradição. Se há pouco tempo atrás se comemorava a data e louvava-se a Princesa Isabel, a “redentora” pelo ato de libertar os escravos no Brasil, hoje há uma “tradição inventada”. Se o 13 de maio deixa de ser a data de comemoração ou rememoração do ato do fim da escravidão brasileira, simbolicamente há de se buscar uma data que signifique o aspecto da luta do negro para a sua emancipação, não como se sua liberdade viesse do Estado nascente brasileiro, mas como um processo de luta em que o próprio negro interviu de várias maneiras e principalmente pela resistência.  A tradição inventada, conforme Hobsbawm visa o inculcamento de valores e normas de comportamento através da repetição, o que faz com que o passado passa a ter uma continuação no presente, mas neste caso com um novo significado. Falo da “tradição inventada”, pois se constitui o 20 de novembro na data de novo significado do passado escravista brasileiro. Se o 13 de maio é uma “

AS UPPs E AS FAVELAS

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No texto anteriormente publicado neste espaço, dissertamos sobre como as ocupações da cidade do Rio de Janeiro foram realizadas dentro de um contexto sócio-histórico-cultural e como as favelas que hoje são tidas pelo senso comum como o mal que deve ser combatido no Rio de Janeiro foram criadas por consentimento ou omissão do próprio Estado, tendo como uma das consequências a fabricação de um preconceito contra a origem geográfica e de lugar aos seus moradores. Neste contexto, nos dias atuais uma das políticas de Estado para as favelas do RJ são as UPPs-Unidade de Policia Pacificadora, uma das modalidades de policiamento comunitário. O objetivo das UPPs é retomar o controle estatal das comunidades sobre forte influência da criminalidade. Ao devolver o sentimento de tranquilidade e a ordem às comunidades, pretendem modificar a visão deturpada dos moradores, que negociam com a marginalidade uma ordem difusa, criando uma falsa sensação de segurança. Outro objetivo das UPPs é in

FAVELAS - AS FRONTEIRAS DO PRECONCEITO

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Conforme a Organização das Nações Unidas-ONU em seu Relatório “Estado das Cidades do Mundo 2010/2011: Unindo o Urbano Dividido", o "número absoluto" de moradores de favelas cresceu de 776,7 milhões em 2000 para 827,6 milhões em 2010. Só no Rio de Janeiro elas ocupam 3,8% da cidade.  As favelas são para o senso comum, as maiores responsáveis pelo nível de violência em que vive a cidade. Culpam a sua localização e consequentemente os seus moradores, discutem as consequências, esquecem-se das causas. No caso do Rio de janeiro, o que não se discute é que os seus moradores não ocuparam aquele locais por vontade própria, historicamente as favelas foram construídas para limpar a imagem do Rio de Janeiro e transformá-la em cidade europeia, o que redundou em vários momentos onde determinadas classes, foram expurgadas, jogadas, expulsas a maioria das vezes em nome da civilização, mas que por trás dessa modernização da cidade, houve por parte do Estado vários interesses po

BANDAS DE CONGO: RESISTÊNCIA CULTURAL

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O maior folclorista capixaba, Hermogenes Lima Fonseca, listou assim as diversas manifestações folclóricas de nosso Estado: no norte temos o Ticumbí, Pastorinhas, Alardo e Reis de Boi; no sul: Folias de reis e em todos os municípios do Estado têm as bandas de Congo. As bandas de Congo são um dos maiores eventos folclóricos do Espírito Santo, são as responsáveis por levarem todos os anos uma multidão de pessoas para os municípios da Grande Vitória, seja no natal, festas de São Benedito, carnaval e em festas religiosas. Segundo o Mestre de Congo, Antônio Rosa, as bandas de Congo originaram-se de um naufrágio de um navio negreiro em 1862, próximo à Nova Almeida, que se salvaram 21(ou 25) escravos. No navio negreiro havia uma imagem e uma bandeira de São Benedito. Os sobreviventes chefiados pelo escravo Joaquim Crispiniano da Silva, em agradecimento ao santo, prometeram organizar uma festa. E assim foi organizada a cortada e fincada do mastro, sendo que nessa época a prociss

ESCOLAS CARANDIRU

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Muros altos, guardas no portão, sirenes tocando, grades por todos os andares, vídeos e televisores dentro de uma gaiola de ferro com um grande cadeado, o que descrevo não é um presídio, mas sim uma escola.  A sala dos pedagogos parece mais uma delegacia onde as “ocorrências” de indisciplina ou de violência são relatadas. As punições tornam-se também similares ao do meio policial: advertência, suspensão, transferência e expulsão. Os alunos punidos juntam-se em outra escola, já que a anterior preferiu não resolver o problema ou já tentara todas as soluções, como chamar os pais, conversar com a criança ou adolescente. Na verdade, a solução não se encontra dentro da escola, mas nas outras entidades que poderiam realizar junto com a escola um trabalho de “ajustamento” desses alunos. Mas na maioria das vezes o que vemos é que os desajustados são encaminhados para outra escola, assim a escola anterior livra-se de um problema, enquanto outra escola recebe o novo a

TIRADENTES: A CONSTRUÇÃO DO HERÓI.

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Heróis levam multidões a comprar livros, a ver filmes, a acompanhar novelas, mas há alguns que vivem em constante mutação como se a memória ficasse sempre a ajustar a melhor leitura para ele, como se a cada nova pesquisa a mascara do herói fosse refeita e por trás dela se descobrisse novas verdades sobre quem ele realmente era. Um de nossos heróis é desse tipo: Tiradentes. Este se tornou símbolo republicano quase 100 anos depois de sua morte. Na falta de um herói civil ou na busca de um herói militar, que não havia na época, venceu a tradição e o imaginário popular que há muito já construía uma simpatia pelo herói da revolta mineira. De Tiradentes pouco se sabe, seu rosto hoje estampado nas fardas das policias militares (na policia de Minas Gerais sem barba, na do Espírito Santo barbudo), desapareceu “... com a cabeça, que a mando das autoridades foi separada do corpo; perdeu-se quando os olhos que o viram vivo também deixaram de ver. Por isso cada um tratou de criar seu próprio

SEVERINOS

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A história política em uma determinada época procurava explicar o mundo através dos feitos de uma só pessoa eram os chamados “vultos históricos”. Esses personagens históricos por natureza apareciam em vários livros na década de 1970 e muitos de nós acreditaram que tudo aquilo era verdade. Era uma história construída de heróis cuja personalidade produzia eventos e por si dirigiam o trem da história. Hoje quando no teatro político aparecem personagens que a maioria da população brasileira desconhece, há uma busca por entender como nasceu o personagem e qual a sua representatividade no teatro político, o personagem da vez é Severino José Cavalcanti. Mas, “... para compreender completamente os discursos políticos que são oferecidos no mercado em dado momento e cujo conjunto define o universo do que pode ser dito e pensado politicamente (...) seria preciso analisar todo o processo de produção dos profissionais da produção ideológica (...) que os designa para estas funções e a