BANDAS DE CONGO: RESISTÊNCIA CULTURAL
O maior folclorista capixaba, Hermogenes Lima Fonseca, listou
assim as diversas manifestações folclóricas de nosso Estado: no norte temos o
Ticumbí, Pastorinhas, Alardo e Reis de Boi; no sul: Folias de reis e em todos
os municípios do Estado têm as bandas de Congo.
As bandas de Congo são um dos maiores eventos folclóricos do
Espírito Santo, são as responsáveis por levarem todos os anos uma multidão de
pessoas para os municípios da Grande Vitória, seja no natal, festas de São
Benedito, carnaval e em festas religiosas.
Segundo o Mestre de Congo, Antônio Rosa, as bandas de Congo
originaram-se de um naufrágio de um navio negreiro em 1862, próximo à Nova
Almeida, que se salvaram 21(ou 25) escravos. No navio negreiro havia uma imagem
e uma bandeira de São Benedito. Os sobreviventes chefiados pelo escravo Joaquim
Crispiniano da Silva, em agradecimento ao santo, prometeram organizar uma
festa. E assim foi organizada a cortada e fincada do mastro, sendo que nessa
época a procissão era feita com um barco puxado por um cipó ou corda de embira.
Conseguiram de seus senhores um dia de alforria, organizaram-se na
senzala e iniciou-se o festejo a São Benedito, bem como a criação da primeira
banda de Congo do Espírito Santo. Segundo o relato do mestre Antônio Rosa,
datado de 1988, foi através dos negros da Serra que as bandas de Congo
expandiram-se para o resto do Estado, o que pode ser parte de uma lenda
conservada pela história oral. Mas que não é contestada pelos historiadores,
conforme o livro “Negro do Espírito Santo”, das historiadoras Carla Osório,
Adriana Bravim e Leonor de Araújo Santana (ps.113-114).
As bandas de Congo organizam-se de uma forma que conseguem
preservarem-se, sendo através do interesse dos mais velhos que ensinam aos mais
jovens desde a confecção dos instrumentos às canções. A peculiaridade está na
passagem de um Mestre para outro, há a tradição de ser em família.
A banda de Congo “Amores da Lua” foi fundada pelo Seu Alarico
Azevedo em março de 1945, que apoiado pelo Coronel Hélio Nascimento dos Reis e
“Pernambuco” (Alfredo Manoel da Silva), fizeram em 25 de dezembro de 1945 a
primeira puxada de mastro em “Mulembá”, hoje Santa Marta. A procissão que sai
todos os anos da Igreja católica de São Cristóvão, só foi criada no natal de
1987. Na “Amores da Lua” com a morte de Seu Alarico em 1981, assumiu Seu
Reginaldo Barbosa Sales, genro de Seu Alarico. Do mesmo modo, o escravo
Crispiniano, veio a falecer em 1889, um ano após a abolição, sendo que seu
filho, José Maria da Silva, conhecido como “Tio Zé”, lhe sucedeu na direção da
banda de Congo de Putiri, vindo a falecer em 1957, dando lugar ao Mestre
Antônio Rosa falecido em 03-08-1999, quando a banda passou de Putiri para a
Serra-sede, denominando-se Congo Folclórico de São Benedito da Serra.
A banda de Santa Isabel de Cariacica que faz o Congo de máscaras,
após a morte do seu fundador, Seu Queirós, foi sucedido pelo Sr. Manuel
Ferreira, o “Mané gabiroba”, falecido em 20 de agosto deste, sucedido pelo
filho, Tagibe Ferreira. Há de se notar que a continuidade das bandas de Congo,
não está ligada somente ao parentesco, mas também ao interesse dos envolvidos.
Acima de tudo essas pessoas querem manter uma tradição e impedir
modificações no ritual. O que não ocorreu com o carnaval que se tornou
“espetáculo global”. Da mesma forma, só ocorreria com as bandas se essa
hereditariedade fosse quebrada, tornando-as espetáculo. O importante é que a
criação da Casa de Congo Mestre Antônio Rosa, criada em 26 de agosto, na Serra
e o lançamento do Cd “Banda de Congo Amores da Lua – 50 anos” incitem no povo
capixaba uma certa “resistência”.
Resistência esta contra o saber erudito que invade as
manifestações populares cunhando-as de exóticas e a “carnavalização” do
folclore, não as transformando em festas para gringo ver.
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