SEVERINOS
A história política em uma determinada época procurava explicar o
mundo através dos feitos de uma só pessoa eram os chamados “vultos históricos”.
Esses personagens históricos por natureza apareciam em vários livros na década
de 1970 e muitos de nós acreditaram que tudo aquilo era verdade. Era uma história
construída de heróis cuja personalidade produzia eventos e por si dirigiam o
trem da história.
Hoje quando no teatro político aparecem personagens que a maioria
da população brasileira desconhece, há uma busca por entender como nasceu o
personagem e qual a sua representatividade no teatro político, o personagem da
vez é Severino José Cavalcanti. Mas, “... para compreender completamente os
discursos políticos que são oferecidos no mercado em dado momento e cujo
conjunto define o universo do que pode ser dito e pensado politicamente (...)
seria preciso analisar todo o processo de produção dos profissionais da
produção ideológica (...) que os designa para estas funções e a formação geral
ou específica que os prepara para assumi-las...”. (BORDIEU, 1989:170).
O pernambucano que ocupa a presidência da Câmara dos Deputados foi
apresentado à população brasileira como um componente do Baixo Clero, grupo sem
representatividade política, mas com poder de pesar sempre na balança na hora
das decisões. O papel de Cavalcanti é muito maior do que possa se imaginar, ele
em si representava a grande maioria dos políticos que representam estados
brasileiros que não possuem poder político nacional para, por exemplo, eleger
um presidente da república, mas possui uma representatividade que é necessária
para compor, votar e até guiar a política econômica de qualquer governo. Ou
seja: os Severinos são todos aqueles que buscam um lugar ao sol na arena
política, que representam estados que na maioria das vezes não conseguem muito
em investimento federal, mas são necessários para manter o equilíbrio entre o
partido que governa e a oposição.
Representam também velhas sequelas da política brasileira: o
clientelismo e o mandonismo. A trajetória política de Severino Cavalcanti nos
esclarece qual o peso dessas representações no cenário político brasileiro. O
primeiro cargo eletivo de Severino foi o de prefeito da cidade onde nascera:
João Alfredo (PE), com 32 anos de idade. Nessa época era filiado a UDN. Com o
Ato institucional 02(27/10/1965) e com o bipartidarismo (Arena e MDB) filiou-se
a Arena, partido que dava sustentação política ao governo militar. Em 1967
elegeu-se pela primeira vez deputado estadual, após desligar-se da Prefeitura.
E reelegeu-se por 6 vezes deputado estadual, passando pelas legendas do PDS,
PDC, PL, PPR e PFL, este ultimo eleito pela primeira vez deputado federal em
1994 e reelegendo-se em 1998 pelo PPB. Mesmo que hoje Severino seja taxado como
uma volta ao passado, ele na verdade é fruto de uma carreira política muito
parecida com a maioria dos políticos brasileiros, que através de alianças
locais alcançaram uma representatividade que às vezes, possa parecer nula, mas
é muito importante para equilibrar os interesses e objetivos da política
brasileira.
Apesar de parecer que Severino surgiu de repente como alguns
parecem crer, ele é apenas um reflexo na água, um pedaço do mosaico onde são
representados parte da população. Bem ou mal Severino não é fruto do presente e
não representa a si mesmo, mas sim uma parte de nossa história que teima em
entrar em colisão com o presente e que temos que buscar no passado para
continuarmos seguindo em frente, não em busca do progresso, mas sim para a
compreensão do nosso momento político e de nosso país.
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