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Mostrando postagens de abril, 2011

AS UPPs E AS FAVELAS

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No texto anteriormente publicado neste espaço, dissertamos sobre como as ocupações da cidade do Rio de Janeiro foram realizadas dentro de um contexto sócio-histórico-cultural e como as favelas que hoje são tidas pelo senso comum como o mal que deve ser combatido no Rio de Janeiro foram criadas por consentimento ou omissão do próprio Estado, tendo como uma das consequências a fabricação de um preconceito contra a origem geográfica e de lugar aos seus moradores. Neste contexto, nos dias atuais uma das políticas de Estado para as favelas do RJ são as UPPs-Unidade de Policia Pacificadora, uma das modalidades de policiamento comunitário. O objetivo das UPPs é retomar o controle estatal das comunidades sobre forte influência da criminalidade. Ao devolver o sentimento de tranquilidade e a ordem às comunidades, pretendem modificar a visão deturpada dos moradores, que negociam com a marginalidade uma ordem difusa, criando uma falsa sensação de segurança. Outro objetivo das UPPs é in

FAVELAS - AS FRONTEIRAS DO PRECONCEITO

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Conforme a Organização das Nações Unidas-ONU em seu Relatório “Estado das Cidades do Mundo 2010/2011: Unindo o Urbano Dividido", o "número absoluto" de moradores de favelas cresceu de 776,7 milhões em 2000 para 827,6 milhões em 2010. Só no Rio de Janeiro elas ocupam 3,8% da cidade.  As favelas são para o senso comum, as maiores responsáveis pelo nível de violência em que vive a cidade. Culpam a sua localização e consequentemente os seus moradores, discutem as consequências, esquecem-se das causas. No caso do Rio de janeiro, o que não se discute é que os seus moradores não ocuparam aquele locais por vontade própria, historicamente as favelas foram construídas para limpar a imagem do Rio de Janeiro e transformá-la em cidade europeia, o que redundou em vários momentos onde determinadas classes, foram expurgadas, jogadas, expulsas a maioria das vezes em nome da civilização, mas que por trás dessa modernização da cidade, houve por parte do Estado vários interesses po

BANDAS DE CONGO: RESISTÊNCIA CULTURAL

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O maior folclorista capixaba, Hermogenes Lima Fonseca, listou assim as diversas manifestações folclóricas de nosso Estado: no norte temos o Ticumbí, Pastorinhas, Alardo e Reis de Boi; no sul: Folias de reis e em todos os municípios do Estado têm as bandas de Congo. As bandas de Congo são um dos maiores eventos folclóricos do Espírito Santo, são as responsáveis por levarem todos os anos uma multidão de pessoas para os municípios da Grande Vitória, seja no natal, festas de São Benedito, carnaval e em festas religiosas. Segundo o Mestre de Congo, Antônio Rosa, as bandas de Congo originaram-se de um naufrágio de um navio negreiro em 1862, próximo à Nova Almeida, que se salvaram 21(ou 25) escravos. No navio negreiro havia uma imagem e uma bandeira de São Benedito. Os sobreviventes chefiados pelo escravo Joaquim Crispiniano da Silva, em agradecimento ao santo, prometeram organizar uma festa. E assim foi organizada a cortada e fincada do mastro, sendo que nessa época a prociss

ESCOLAS CARANDIRU

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Muros altos, guardas no portão, sirenes tocando, grades por todos os andares, vídeos e televisores dentro de uma gaiola de ferro com um grande cadeado, o que descrevo não é um presídio, mas sim uma escola.  A sala dos pedagogos parece mais uma delegacia onde as “ocorrências” de indisciplina ou de violência são relatadas. As punições tornam-se também similares ao do meio policial: advertência, suspensão, transferência e expulsão. Os alunos punidos juntam-se em outra escola, já que a anterior preferiu não resolver o problema ou já tentara todas as soluções, como chamar os pais, conversar com a criança ou adolescente. Na verdade, a solução não se encontra dentro da escola, mas nas outras entidades que poderiam realizar junto com a escola um trabalho de “ajustamento” desses alunos. Mas na maioria das vezes o que vemos é que os desajustados são encaminhados para outra escola, assim a escola anterior livra-se de um problema, enquanto outra escola recebe o novo a

TIRADENTES: A CONSTRUÇÃO DO HERÓI.

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Heróis levam multidões a comprar livros, a ver filmes, a acompanhar novelas, mas há alguns que vivem em constante mutação como se a memória ficasse sempre a ajustar a melhor leitura para ele, como se a cada nova pesquisa a mascara do herói fosse refeita e por trás dela se descobrisse novas verdades sobre quem ele realmente era. Um de nossos heróis é desse tipo: Tiradentes. Este se tornou símbolo republicano quase 100 anos depois de sua morte. Na falta de um herói civil ou na busca de um herói militar, que não havia na época, venceu a tradição e o imaginário popular que há muito já construía uma simpatia pelo herói da revolta mineira. De Tiradentes pouco se sabe, seu rosto hoje estampado nas fardas das policias militares (na policia de Minas Gerais sem barba, na do Espírito Santo barbudo), desapareceu “... com a cabeça, que a mando das autoridades foi separada do corpo; perdeu-se quando os olhos que o viram vivo também deixaram de ver. Por isso cada um tratou de criar seu próprio

SEVERINOS

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A história política em uma determinada época procurava explicar o mundo através dos feitos de uma só pessoa eram os chamados “vultos históricos”. Esses personagens históricos por natureza apareciam em vários livros na década de 1970 e muitos de nós acreditaram que tudo aquilo era verdade. Era uma história construída de heróis cuja personalidade produzia eventos e por si dirigiam o trem da história. Hoje quando no teatro político aparecem personagens que a maioria da população brasileira desconhece, há uma busca por entender como nasceu o personagem e qual a sua representatividade no teatro político, o personagem da vez é Severino José Cavalcanti. Mas, “... para compreender completamente os discursos políticos que são oferecidos no mercado em dado momento e cujo conjunto define o universo do que pode ser dito e pensado politicamente (...) seria preciso analisar todo o processo de produção dos profissionais da produção ideológica (...) que os designa para estas funções e a

DESARMAMENTO E CULTURA DE PAZ

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Termo de Fiança datado de 29 de maio de 1873 mostra que para um comerciante capixaba tornar-se vendedor de armas de fogo e de pólvora, precisava apenas da ajuda de dois fiadores e deslocar-se até a delegacia solicitando ao chefe de policia autorização para vender pólvora, armamentos, munição e inflamáveis em seu comércio. O comerciante assinava a documentação comprometendo-se a não vender os artigos a menores e pessoas suspeitas, para evitar perder a autorização e ser, também, responsabilizado pelas consequências oriundas da venda. Já outro documento de 20 de dezembro de 1909, demonstra como era controlada a venda de armas na época, autorizava um comerciante a vender “durante o corrente anno, em sua casa comercial (...) pólvora, armamento, munição e outros inflamáveis, obrigando-se a não expor à venda mais de 100 kg de chumbo e 40 espingardas de caça.”, alertando sobre a venda a menores e a pessoas suspeitas. Os termos de fiança se foram com o tempo e hoje com o Estatuto d

DEPOIS DAQUELE 11 DE SETEMBRO

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As datas não são o “todo” em História como os positivistas um dia queriam nos ensinar, mas o 11 de setembro é uma data que possui uma representatividade de rememoração e de uma contínua ligação com o presente. Para muitos historiadores a data representa o marco do início do século XXI, nada diferente do “breve século XX”. Mas o ataque às torres gêmeas do World Trade Center, símbolo da economia americana, traz este sentimento de rememoração de contínuo repetir graças à ameaça dos ataques do terrorismo islâmico em todo o mundo. Lembro-me que dias depois do 11 de setembro, crianças desenhavam prédios parecidos com o número um, com aviões pegando fogo adentrando os prédios. Não fora diferente, as crianças naqueles dias estavam simplesmente transportando para o papel o que havia ficado em suas memórias, imagens repetidas na tv, jornais impressos e até capas de livros, traziam o mesmo desenho, a memória não falha. Do mesmo jeito, a data solidificou-se e depois daquele 11 de s

AS CIDADES DE DEUS

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Existia em Canudos um morro denominado Favela. Após o fim do movimento social com a vitória do exército, muitos ex-combatentes ao chegarem ao Rio de Janeiro juntaram-se a outros moradores que foram expulsos dos vários cortiços que estavam sendo derrubados no Rio de Janeiro, dentre eles, um dos mais famosos: o Cabeça de Porco. Um dos livros que nos conta a vida diária das pessoas que viviam nessas moradias coletivas é “O Cortiço”, de Aluisio de Azevedo. O morro onde foram morar os ex-combatentes ficou conhecido como “Morro da Favela”, coincidentemente, o mesmo nome de um dos morros de Canudos. O Aurélio reforça essa ideia, confirmando que o Morro da Favela (RJ) teve esse nome por causa dos ex-combatentes de Canudos e nos dá visão atual do que é uma favela: “Conjunto de habitações populares toscamente construídas (por via de regras em morros) e com recursos higiênicos deficientes”. Em “O Cortiço”, Aluisio de Azevedo nos brinda com um personagem que tem vida própria, como se

A EMBRIAGUEZ DO PODER

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Um artigo escrito pelo jornalista Larry Rohter foi o causador da ultima crise no governo Lula. O artigo do jornalista do New York Times foi publicado no dia 09 de maio e é uma verdadeira aula de como não se deve escrever um artigo jornalístico. Nele o autor demonstra uma imaturidade de principiante, mas acima de tudo demonstra estar mais interessado em levantar polêmica, digna de jornalismo marrom, do que trabalhar a favor de um jornalismo sério e comprometido com a verdade. Citou fontes sem saber aonde essas fontes buscaram informações, o jornalista Diogo Mainardi da revista Veja, teve seu artigo do dia 24 de março deste citado de forma direta, mas ele havia pesquisado em jornais como a Folha de São Paulo e O Globo, sendo que em seu artigo em hora nenhuma diz que há uma “preocupação nacional” sobre o suposto abuso de álcool do Presidente, pior Diogo Mainardi escreve solicitando ao Presidente para parar de beber em eventos e em público, diz que o Presidente assim está dando m

A Dengue e os dois Brasis

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Na Baixa Idade Média (século XIV a meados do século XVI), a população européia foi tomada por uma epidemia que varreu a Europa e atingiu fatalmente um terço da população: a peste negra. Entre os anos de 1348 e 1350 o número de vitimas fatais da doença foi de 25 a 35% da população européia, bem como a relação entre os que adquiriam a doença e os que faleciam (taxa de letalidade) era de 70%.(Franco Jr., Hilário. O Feudalismo. São Paulo: Brasiliense, 1996. p.81).  A doença foi conseqüência das péssimas condições em que o homem medieval vivia, ou seja, uma habitação que não possuía iluminação interna, somente uma janela, sem divisões internas, onde fogueiras eram acesas no meio da residência para fugir do frio.  Não havia diferença de assepsia entre as residências dos camponeses feitas de adobe e madeira e as dos senhores feudais feitas de pedras, os castelos. Ambos tinham pouca luminosidade, careciam de ventilação, possuíam um buraco no centro para sair a fumaça das fo