AS UPPs E AS FAVELAS
No texto anteriormente publicado neste espaço, dissertamos sobre
como as ocupações da cidade do Rio de Janeiro foram realizadas dentro de um
contexto sócio-histórico-cultural e como as favelas que hoje são tidas pelo
senso comum como o mal que deve ser combatido no Rio de Janeiro foram criadas
por consentimento ou omissão do próprio Estado, tendo como uma das
consequências a fabricação de um preconceito contra a origem geográfica e de
lugar aos seus moradores.
Neste contexto, nos dias atuais uma das políticas de Estado para
as favelas do RJ são as UPPs-Unidade de Policia Pacificadora, uma das
modalidades de policiamento comunitário. O objetivo das UPPs é retomar o
controle estatal das comunidades sobre forte influência da criminalidade. Ao
devolver o sentimento de tranquilidade e a ordem às comunidades, pretendem
modificar a visão deturpada dos moradores, que negociam com a marginalidade uma
ordem difusa, criando uma falsa sensação de segurança.
Outro objetivo das UPPs é induzir a reativação da solidariedade
local, pois quando a esta perde a força, a sociedade acaba não se organizando
para resolver os seus problemas. A falta de confiança entre os seus membros
impedem uma organização em torno da política, a “Ágora” fica vazia e isto faz
com que emerjam representantes que não se preocupam com as necessidades locais,
sendo muitos eleitos através da prática de mandonismo. Através de políticas
como as UPPs, o Estado busca retomar as rédeas do poderio local, ocorrendo
isso, as politicas sociais passam a ser novamente prioridade nesses locais.
Estas devem ter a anuência e o compartilhamento com a sociedade
civil organizada, para que as prioridades desses locais sejam levantadas e
medidas adotadas para a melhora de vida e bem estar dos moradores. Há uma fase
preliminar para a implementação de uma UPP, sendo feita uma análise estratégica
do local, depois um planejamento tático, onde se levanta como e quais os meios
serão utilizados para a ocupação, e finalmente a ocupação operacional. Após
ocorrer a ocupação, o foco passa a serem as ações de inteligência e
repressivas, utilizando o conceito de “guerra avisada”, ou seja, a polícia
ocupará cada vez mais a comunidade e ela será avisada de toda a movimentação
que venha a ocorrer. Após a estabilização das ações, intensifica-se o trabalho
de aproximação entre a polícia e a comunidade, sendo esta monitorada
constantemente, para que assim se elimine os últimos focos de resistência do
tráfico e da marginalidade.
Na terceira fase ocorre a implantação da UPP, mantendo-se o foco
na prevenção a criminalidade e a violência. Hoje existem 12 UPPs, sendo que até
o fim de 2010 mais de 200.000 pessoas serão impactadas em 46 comunidades.
A quarta fase de implantação das UPPs consiste em avaliação e
monitoramento, sendo feito o acompanhamento da qualidade dos serviços, a
construção de indicadores e avaliação dos objetivos alcançados para que ocorram
as correções e o realinhamento das ações. A questão que levantamos sobre as
UPPs é que políticas como essa tentam corrigir políticas anteriores que
estigmatizaram determinados espaços geográficos, delimitando o investimento por
parte do Estado.
As UPPs e outras políticas que buscam a “retomada” de “território”
pelo Estado não são a salvação da lavoura, como outras políticas são
necessários que outros atores sociais participem e que não só a polícia seja a
mantenedora da “pax” nessas comunidades, pois segurança pública não se faz só
com polícia e polícia não pode ser sinônimo de politicas de segurança pública.
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