DESARMAMENTO E CULTURA DE PAZ
Termo de Fiança datado de 29 de maio de 1873 mostra que para um
comerciante capixaba tornar-se vendedor de armas de fogo e de pólvora,
precisava apenas da ajuda de dois fiadores e deslocar-se até a delegacia
solicitando ao chefe de policia autorização para vender pólvora, armamentos,
munição e inflamáveis em seu comércio.
O comerciante assinava a documentação comprometendo-se a não
vender os artigos a menores e pessoas suspeitas, para evitar perder a
autorização e ser, também, responsabilizado pelas consequências oriundas da
venda. Já outro documento de 20 de dezembro de 1909, demonstra como era
controlada a venda de armas na época, autorizava um comerciante a vender
“durante o corrente anno, em sua casa comercial (...) pólvora, armamento,
munição e outros inflamáveis, obrigando-se a não expor à venda mais de 100 kg
de chumbo e 40 espingardas de caça.”, alertando sobre a venda a menores e a
pessoas suspeitas.
Os termos de fiança se foram com o tempo e hoje com o Estatuto do
Desarmamento, procura-se manter um controle sobre as armas que circulam no
país. Hoje não se vendem armas como na República Velha, mediante o olhar de
confiança ou não do comerciante, ou do delegado de policia que na época
autorizava o comerciante a vender armas, pólvora e inflamáveis.
Hoje a nossa realidade não permite que todos possuam armas, algo
que nos Estados Unidos não é condenável e que na maioria dos estados americanos
autorizam jovens a utilizarem armas, bem como os pais desde cedo incitam o
filho a armar-se. O que faz com que a indústria de armas nos Estados Unidos
mantenha o lobby sobre o meio político, impedindo que leis contra o
desarmamento sejam aprovadas por lá.
Este assunto foi muito bem discutido por Michael Moore em “Tiros
em Columbine”, demonstrando como a afeição dos estadunidenses pelas armas
inicia-se na infância e atravessa a adolescência, formando adultos que
consideram que usar uma arma é normal e que em nome dos “fundadores da pátria”,
do “direito de propriedade” e da Segunda Emenda, devem manter seu direito de possuir
armas. Mas fatos recentes, como o que aconteceu em uma escola em Columbine demonstram
que os americanos com seu espírito belicista estão errados e que há necessidade
de limitação de uso de armas principalmente entre os jovens.
A lei nº. 10826, o
chamado Estatuto do Desarmamento prevê que armas de fogo não serão vendidas
para menores de 25 anos (com algumas ressalvas), ao mesmo tempo é na faixa
etária de 16 a 25 anos que está a grande maioria dos jovens que são vitimas ou
causadores de violência com armas de fogo, principalmente nos finais de
semanas. Soluções como o Estatuto do Desarmamento não podem ser isoladas, sendo
necessárias políticas sociais ligadas a esses jovens, exemplos como programas
“Abrindo Espaços” da UNESCO onde os jovens utilizam-se das escolas nos finais
de semana (quando aumentam os índices de violência) experiência testada em
países como à Espanha, Estados Unidos e França e no Brasil, em Brasília. Ou em
outro exemplo como o programa “Espaço Aberto ao Diálogo da Infância e
Juventude” implantado em Cuiabá, também pela UNESCO.
São exemplos de como o Estado e a sociedade organizada podem
ajudar a formar espaços alternativos onde os jovens possam protagonizar sua
própria história, discutir seus problemas, aspirações e sonhos, exercendo sua cidadania,
participando e tornando-se um ser humano que saberá mediar seus conflitos,
tornando-se um divulgador da cultura da não violência, lutando por uma cultura
de paz.
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