NEGROS, MÍDIA E VIOLÊNCIA - AS NOTÍCIAS NOS JORNAIS.



Este texto faz uma reflexão sobre três fatos e suas relações com a mídia, principalmente os jornais, nos três momentos os fatos narrados apesar de estarem separados pelo tempo, motivo e local, não impedem de que haja uma avaliação e uma análise da mídia quanto à importância do negro na sociedade brasileira. Nos três momentos podemos ver como a mídia trabalha a “figura” do negro e como isso é um reflexo de nosso passado escravista, como também do “mito da democracia racial” que está enraizado na cultura brasileira e impede avanços que seriam interessantes para as relações raciais no Brasil.

Primeiro caso: em um curso da Policia Civil do Rio de Janeiro em 2008(curso para a Delegacia Legal), uma das boas políticas de segurança pública mantida há décadas pelos governos do RJ, houve em uma palestra a apresentação do negro como traficante e o usuário como branco, além da policia apresentar-se como repressora. Entre desculpas, além da retirada e promessa de “atualização” dos palestrantes do curso fica a mensagem: a polícia reproduz o que o senso comum espalha pela TV e pelos jornais, pior o coloca como verdade em um curso massificando a ideia de que somente o negro é marginal e que os brancos são as vítimas do mal fabricado nas favelas brasileiras.

Segundo caso: um jornal do Espírito Santo, no dia 08 de julho de 2011, anuncia uma chacina, a noticia era: “Quatro jovens são amarrados e executados com tiros na cabeça”. Nela o jornalista seleciona as “cores” das vitimas, assim: “Um deles era moreno vestia camisa verde e calça jeans. Outro jovem era negro, trajava camisa preta, bermuda roxa e branca e usava um boné preto do Corinthians. O terceiro rapaz era pardo e vestia camisa preta e bermuda branca.”. Há de se ressaltar que somente uma das vitimas havia sido identificada por que possuía documentos, no afã de descrever como eram as vítimas que não foram identificadas o jornalista esbarra no preconceito racial, pois todos os três corpos não identificados eram de negros, pois a classificação “morena” e parda” são resquícios da identidade brasileira criada sobre o mito da democracia racial.

Terceira noticia: que corrobora com as duas acima e que mostra como as discussões em torno das relações raciais brasileiras ainda são tratadas sem o devido valor e respeito. No dia 01 de julho de 2011 o Núcleo de Estudos sobre Violência, Segurança Pública e Direitos Humanos da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) divulgou que o número de homicídios no Espírito Santo de Janeiro a Maio foram de 391 e que os negros representavam 77% das vítimas. Os dados foram apresentados no Plenário Dirceu Cardoso da Assembleia Legislativa (Ales), em sessão especial proposta pelo deputado Claudio Vereza (PT) para debater a “Juventude em Marcha Contra a Violência e Extermínio”. Os jornais não trabalharam essa notícia nas semanas subsequentes, não deram valor ao fato de que a maioria são negros e jovens vítimas de homicídios no Espírito Santo.

Nos três casos, vemos que há uma dificuldade da mídia apresentar e discutir a “questão racial” em nosso país, ainda evita-se discutir o assunto como se fosse algo de minorias que não merecem o devido tratamento respeitoso. Assim, as páginas policiais só lembram que o cidadão é negro quando ele é vitima de “injuria racial”, mesmo sendo “moreno”, mas chamado de “preto” o jornal não titubeia e lança a notícia com o aval da lei, mas quando é para descrever o mesmo negro como vítima de um homicídio há a preferência pela suavização da cor: moreno, pardo.

Do outro lado da linha o senso comum é trabalhado pela mídia, principalmente pela TV que mostra que o traficante é sempre negro e quem compra é sempre branco, ou seja, os que morrem em sua maioria devem morrer por que são os causadores da “anomia social” que circunda a sociedade. As “classes perigosas” migraram para a periferia e “as favelas são as novas senzalas” como dizia Lobão, infelizmente a letra dele ainda é atual.


REFERÊNCIA: CURSO do projeto Delegacia Legal apresenta estereótipo do negro traficante e o branco usuário de drogas.
Disponível em:http://extra.globo.com/geral/casodepolicia/materias/2008/09/22/curso_do_projeto_delegacia_legal_apresenta_estereotipo_do_negro_traficante_o_branco_usuario_de_drogas-548321926.asp.Acesso

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