FOBÓPOLE: A CIDADE DO MEDO
Nos últimos dez anos acompanhamos o crescimento da violência nas
cidades e em consequência o seu alastramento tomando cidades do interior.
Algumas percepções do medo irradiado nas metrópoles passaram a ser preocupação
também dos moradores da zona rural ou de cidades mais afastadas das capitais
brasileiras. Uma urbanização inconsequente criou metrópoles tomadas pelo medo,
o que um autor cunhou de Fobópole (SOUZA, 2008), ou, cidade do medo, derivadas
das palavras gregas phóbos (medo) e polis (cidade).
Nelas, as conversas e noticiários da imprensa giram em torno do
medo de se tornar mais uma vítima da violência, gerando assim atitudes do
Estado e da Sociedade Civil, de forma a reprimir, prevenir ou se defender de um
suposto ato violento, ocorrendo conseqüentemente alterações no planejamento da
cidade, no seu desenvolvimento e na democracia (Souza, 2008:09).
Uma cidade do medo faz com que as pessoas
modifiquem seus hábitos diuturnamente, onde os laços sociais são de pouca
durabilidade, ao mesmo tempo, a desconfiança e o medo do outro impõem mudanças
comportamentais que influenciam o amalgama da sociedade civil, influenciando
também na democracia participativa, pois os indivíduos não se reúnem mais para
resolverem os problemas da polis, ao contrário, a individualização tão cara ao
capitalismo, faz com que cada um pense somente em si, ocorrendo o aumento pela
busca da segurança privada e deslocamento das preocupações do bem estar de
todos com a segurança de poucos.
A percepção do medo não é homogeneamente
experimentada por toda a população de uma cidade, parte dela, os moradores das
periferias e das áreas mais pobres tem uma percepção do medo mais acentuada do
que os moradores dos melhores lugares das cidades, se de um lado o medo de ser
mais uma vítima de um crime violento é grande, do outro o medo de ser tomado
por um crime ao patrimônio é maior, mas em ambos fica bem clara a diferença,
pois são os moradores das áreas mais pobres e dos serviços urbanos mais
escassos, os que se expõem a uma morte violenta, aumentando a taxa de
homicídios (Cano, 1997:38).
Paralelo a essa divisão sócio-espacial do
medo, articula-se a ideia de que as políticas de segurança pública devem ser
feitas levando-se em conta os mapas de crimes, que indicam a incidência destes
geograficamente. Ora, então os mesmos mapas indicarão a necessidade de uma
constante integração do Estado e da Sociedade Civil nos locais onde o medo
generalizado e principalmente a morte ronda.
Historicamente são as periferias das cidades
o calcanhar de Aquiles de todo o gestor público, seja municipal ou estadual. As
periferias para onde uma criminalidade construída nas cidades migrou, tendo
como combustível o tráfico de drogas aproveitando-se de uma “geopolítica das
drogas” onde se busca uma mais valia deste investimento (e é investimento) em
locais onde o menor risco (principalmente a prisão) possa ocorrer.
Como sociedade civil precisamos reavaliar os
conceitos de segurança pública e de comunidade, para que possamos otimizar os
serviços públicos para todos, sem discriminação. Realinharmos as políticas para
que haja uma equanimidade nos serviços, ao mesmo tempo, induzir à comunidade a
buscar formas de novas organizações, onde o temor do outro seja vencido pela
confiança no amalgama que nos faz agir como sociedade, privilegiando o
indivíduo e não ao capital.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
SOUZA, M.L.de, FOBÓPOLE - O medo generalizado
e a militarização da questão urbana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.
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