FAVELAS - A VIOLÊNCIA CONTRA A JUVENTUDE NEGRA
A violência urbana que atinge aos nossos jovens não os atinge de forma homogênea. O crime no Brasil difere as classes sociais, assim como separa a cor. O crime no Brasil tem endereço certo: as favelas e as regiões periféricas das grandes cidades. Como também tem seu seus principais atores já condicionados pelo habitar e pelo estigma de pertencer a uma “comunidade”, são eles jovens entre 15 e 24 anos, pobres e negros.
Pesquisas demonstram que os crimes ocorrem e demandam de acordo com o local, a moradia, o poder aquisitivo e a etnia. Falar sobre violência entre jovens é tocar em feridas mal cicatrizadas e que vão de encontro ao pensamento dominante e do senso comum de que as relações raciais brasileiras sempre foram por assimilação e não por segregação. O mito da democracia racial engendrado na nossa cultura histórica e reproduzido como um mantra durante muitos anos nos livros didáticos cai por terra quando analisamos todo o contexto atual em que morrem essa massa de jovens das periferias.
Existe sim, afirmo, uma violência direcionada aos negros, institucional, canalizada pelo Estado ou não, a reboque do neoliberalismo, existem vários vetores que levam a mortalidade entre jovens negros serem maiores do que a de brancos, bem como serem os negros a maioria nas cadeias. Achar que isso não acontece ou desmerecer o assunto colocando como desculpa que há também uma população branca desassistida, seja pelo Estado ou marginal (fora do mercado neoliberal e constituinte de mão-de-obra sem especialização) é reproduzir um discurso que, inclusive, é canalizado pelos meios de comunicação demonstrando o quanto o Estado tem procurado diminuir a violência e a ira das “classes perigosas”.
A imagem do negro como um indivíduo violento ou submisso foi construída ao longo de nossa história retrato de nosso passado escravista. A imagem do negro na TV é de um indivíduo submisso, reportando ao escravismo, ou violento, reportando a sua insubmissão ao não aceitar o escravismo. A forma como isso é colocado em nossos dias atuais é realizada de maneira sutil. Basta ver na TV as poucas histórias onde o negro é o personagem principal. No cinema a imagem está ligada e contextualizada dentro de um habitat (a favela) onde o trinômio violência-pobreza-favela constitui a base das relações raciais e quase sempre o negro é o protagonista/vítima da violência seja na sua própria comunidade ou ao invadir a “cidade européia”, ou seja, a cidade dos brancos, basta analisarmos filmes como “Cidade de Deus”, “Ônibus 174”, “Salve Geral” e “Carandiru”, dentre outros. Lembrando que não estou criticando os filmes, mas a visão dos filmes é uma reprodução quase consciente do que está presente em nossas relações raciais e imbricada de senso comum.
Paixão (2005) cita uma pesquisa de Gláucio Soares e Doriam Borges onde constataram que no ano 2000 as taxas de homicídio por 100.000 habitantes no país eram desiguais “... em termos de gênero e de raça: homens negros, 56,7 por 100 mil habitantes e homens brancos, 36,7; mulheres negras, 4,4; mulheres brancas, 3,6.” (Paixão: 2005, p.113).
No Rio de Janeiro entre 1993 e 1996, 70, 2 % dos mortos pela polícia eram negros para uma população branca de 60% da cidade; da mesma forma 54,6% das feridas em confronto com a polícia também eram negras. Quando direcionamos a visão para as favelas, fica nítido como o viés racial da violência: nas favelas das 513 vítimas brancas em confronto com a polícia 17,8% ficaram feridas e 82,2% foram mortas, enquanto com a população negra os feridos foram de 10% e 90% de mortos. Mas em São Paulo não é diferente, sendo 27,83% da população paulista os negros são 43% dos assassinados por policiais (Paixão, 2005, p.114).
Enquanto vem aumentando o Estado Penal (Wacquant: 2001) copiado e articulado liberalmente pelos Estados Unidos e que influenciou a comunidade europeia e nos atinge cada vez mais, tendo como objetivo a imposição do mercado neoliberal e a penalização a todos os “marginais da cidade” que impedidos de participar da farra capitalista acabam no “mercado informal” ou no mercado das drogas. Essa maioria de jovens das nossas favelas e periferias que não conseguem ver o aceno do Estado para as suas necessidades sociais acabam fazendo parte de um triste mosaico patrocinado pela sociedade que os vê como condenados à miséria ou a morte, a máquina de moer deve ser substituída por mais presença do Estado e de uma sociedade que não estigmatize os favelados, mas os receba como brasileiros da mesma nação e não brasileiros de segunda classe.
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