História, Revisionismo e Racismo nos EUA: CHARLOTTESVILE 2017.
O mundo viu a face, sem
qualquer máscara ou simbologia escondida o ressurgimento do racismo nos Estados
Unidos, ou pelo menos a sua nova cara. Foi
em Charlottesville na Virgínia no dia 11 de agosto de 2017. E contou inclusive
com a KKK – Ku Klux Klan que via a chance de voltar ao antigo protagonismo
racista do século XX com a nova vestimenta de “supremacistas brancos”, uma
expressão tão incorreta quanto a sua aplicabilidade.
Tanto por que o ódio
racial não difere em nada do sentimento que desde a Guerra da Secessão (1861-1865)
e durante o século XX, mesmo após o fim do escravismo no sul dos Estados Unidos,
perdurou nos corpos e mentes de parte da população branca estadunidense.
Como uma claraboia que se
abre diante de uma oportunidade, o racismo voltou à tona fomentado por um
presidente que abriu outras claraboias de ódio como o xenofobismo e o
nacionalismo imperialista. O discurso de Donald Trump de “primeiro os Estados
Unidos”, soa como uma imitação chula e de mau gosto da Doutrina Monroe (“A
América para os Americanos”).
Apesar do imperialismo
americano nunca ter deixado de ser prato do dia na Casa Branca, os oito anos de
Obama aumentaram a insatisfação de parte da população que viu em Trump a chance
de retomar algumas mudanças, bem como derrubar alguns avanços nas “políticas de
bem estar social”, como o Obamacare. E é para esta parcela de insatisfeitos que
Trump afinou seu discurso de Direita xenófoba e tenta “governar” somente para
essa parcela de eleitores.
Em 1859, quando os Estados
Unidos ainda possuíam a escravidão latente no Sul e este era motivo de um embate
tanto econômico quanto humanitário, o agricultor e abolicionista John Brown,
que acreditava no uso da violência para libertar os escravos do Sul reuniu 23
pessoas (incluía três filhos, dois genros e somente cinco negros) com o intuito
de saquear o depósito de armas federais em Harper Ferry (Virgínia).
Seu objetivo era após tomar
as armas seguir distribuindo-as pelo interior da Virgínia para os escravos das
fazendas próximas e daí lutarem contra os fazendeiros escravagistas. Após a
invasão, que durou 36 horas, John Brown enviou seis homens às fazendas das
proximidades do depósito de armas para que libertassem os escravos e fizessem
reféns os escravagistas. Mas a insurreição de escravos que Brown planejou não
aconteceu. Um exército composto por escravagistas, milicianos e marines,
comandados pelo Coronel Robert E. Lee dizimou o sonho de Brown. Preso, foi
condenado a forca.
159 anos depois, o estado da
Virgínia foi palco de outro combate, desta vez racistas contra ativistas
antirracismo, iniciada com a marcha dos racistas no dia 11 de agosto de 2017 e resultando
na morte de Heather Heyer (de 32 anos) no dia seguinte, atropelada pelo racista
da Vanguard America James Fields Junior (20 anos), deixando ainda 19 feridos. Esse
embate teve como fagulha uma estátua do General Robert E. Lee, o mesmo que
quando Coronel fazendo parte do exército da União conseguiu capturar John Brown
e seus 22 homens.
A estátua do Gal. Robert E. Lee, de acordo com uma lei local
não condiz com a realidade dos dias atuais, portanto deveria ser retirada,
sendo um símbolo racista. No revisionismo histórico da lei local da Virgínia, a
figura do Gal. Robert E. Lee traz a memória o separatismo entre brancos e
negros e principalmente incentiva as posições racistas. Daí a contenda,
enquanto os racistas americanos querem a permanência da estátua e de outros
símbolos confederados como um passado de glória do Sul, os ativistas pró
direitos humanos e antirracistas querem o cumprimento da Lei, ou seja, a
retirada dos símbolos que lembram o passado escravagista e racista do Sul.
Nos Estados Unidos de John
Brown e Robert E. Lee, o revisionismo histórico tem suas ironias e controvérsias:
John Brown é lembrado como um ativista da abolição e mártir da causa da
liberdade, mas também como o “primeiro terrorista dos EUA”; Robert E. Lee
passou a ser uma figura respeitada no Norte e no Sul, inclusive com a idealização
da Guerra da Secessão como um movimento para defender os direitos
constitucionais do Sul(chamada de “Lost Cause”) retirando a questão
escravagista da discussão, tornando Lee um nobre cavalheiro, esquecendo o seu
passado escravagista( tanto que Abraham Lincoln convidou-lhe para comandar
tropas da União e ele preferiu combater ao lado dos escravagistas do sul). No
fim, o revisionismo acabou abrindo novas feridas e trazendo à tona antigos
sentimentos que nunca morreram apenas estão ali adormecidos esperando o momento
certo de renascer.
Referências bibliográficas:
EFIMOV at alii. História Moderna – As revoluções burguesas, vol. I, 2ª ed.
, Ed. Estampa, 1977.
DAVIDSON, J. W. Uma breve história dos Estados Unidos – Trad. Janaina
Marcoantonio, 1ª ed. , Porto Alegre, RS: R & PM, 2016.
SELLERS, C. ; MAY, H. e MCMILLEN, R. Uma
realvaliação da história dos Estados Unidos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor, 1990.
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