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AS UPPs E AS FAVELAS

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No texto anteriormente publicado neste espaço, dissertamos sobre como as ocupações da cidade do Rio de Janeiro foram realizadas dentro de um contexto sócio-histórico-cultural e como as favelas que hoje são tidas pelo senso comum como o mal que deve ser combatido no Rio de Janeiro foram criadas por consentimento ou omissão do próprio Estado, tendo como uma das consequências a fabricação de um preconceito contra a origem geográfica e de lugar aos seus moradores. Neste contexto, nos dias atuais uma das políticas de Estado para as favelas do RJ são as UPPs-Unidade de Policia Pacificadora, uma das modalidades de policiamento comunitário. O objetivo das UPPs é retomar o controle estatal das comunidades sobre forte influência da criminalidade. Ao devolver o sentimento de tranquilidade e a ordem às comunidades, pretendem modificar a visão deturpada dos moradores, que negociam com a marginalidade uma ordem difusa, criando uma falsa sensação de segurança. Outro objetivo das UPPs é in...

FAVELAS - AS FRONTEIRAS DO PRECONCEITO

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Conforme a Organização das Nações Unidas-ONU em seu Relatório “Estado das Cidades do Mundo 2010/2011: Unindo o Urbano Dividido", o "número absoluto" de moradores de favelas cresceu de 776,7 milhões em 2000 para 827,6 milhões em 2010. Só no Rio de Janeiro elas ocupam 3,8% da cidade.  As favelas são para o senso comum, as maiores responsáveis pelo nível de violência em que vive a cidade. Culpam a sua localização e consequentemente os seus moradores, discutem as consequências, esquecem-se das causas. No caso do Rio de janeiro, o que não se discute é que os seus moradores não ocuparam aquele locais por vontade própria, historicamente as favelas foram construídas para limpar a imagem do Rio de Janeiro e transformá-la em cidade europeia, o que redundou em vários momentos onde determinadas classes, foram expurgadas, jogadas, expulsas a maioria das vezes em nome da civilização, mas que por trás dessa modernização da cidade, houve por parte do Estado vários interesses po...

BANDAS DE CONGO: RESISTÊNCIA CULTURAL

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O maior folclorista capixaba, Hermogenes Lima Fonseca, listou assim as diversas manifestações folclóricas de nosso Estado: no norte temos o Ticumbí, Pastorinhas, Alardo e Reis de Boi; no sul: Folias de reis e em todos os municípios do Estado têm as bandas de Congo. As bandas de Congo são um dos maiores eventos folclóricos do Espírito Santo, são as responsáveis por levarem todos os anos uma multidão de pessoas para os municípios da Grande Vitória, seja no natal, festas de São Benedito, carnaval e em festas religiosas. Segundo o Mestre de Congo, Antônio Rosa, as bandas de Congo originaram-se de um naufrágio de um navio negreiro em 1862, próximo à Nova Almeida, que se salvaram 21(ou 25) escravos. No navio negreiro havia uma imagem e uma bandeira de São Benedito. Os sobreviventes chefiados pelo escravo Joaquim Crispiniano da Silva, em agradecimento ao santo, prometeram organizar uma festa. E assim foi organizada a cortada e fincada do mastro, sendo que nessa época a prociss...

ESCOLAS CARANDIRU

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Muros altos, guardas no portão, sirenes tocando, grades por todos os andares, vídeos e televisores dentro de uma gaiola de ferro com um grande cadeado, o que descrevo não é um presídio, mas sim uma escola.  A sala dos pedagogos parece mais uma delegacia onde as “ocorrências” de indisciplina ou de violência são relatadas. As punições tornam-se também similares ao do meio policial: advertência, suspensão, transferência e expulsão. Os alunos punidos juntam-se em outra escola, já que a anterior preferiu não resolver o problema ou já tentara todas as soluções, como chamar os pais, conversar com a criança ou adolescente. Na verdade, a solução não se encontra dentro da escola, mas nas outras entidades que poderiam realizar junto com a escola um trabalho de “ajustamento” desses alunos. Mas na maioria das vezes o que vemos é que os desajustados são encaminhados para outra escola, assim a escola anterior livra-se de um problema, enquanto outra escola recebe o no...

TIRADENTES: A CONSTRUÇÃO DO HERÓI.

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Heróis levam multidões a comprar livros, a ver filmes, a acompanhar novelas, mas há alguns que vivem em constante mutação como se a memória ficasse sempre a ajustar a melhor leitura para ele, como se a cada nova pesquisa a mascara do herói fosse refeita e por trás dela se descobrisse novas verdades sobre quem ele realmente era. Um de nossos heróis é desse tipo: Tiradentes. Este se tornou símbolo republicano quase 100 anos depois de sua morte. Na falta de um herói civil ou na busca de um herói militar, que não havia na época, venceu a tradição e o imaginário popular que há muito já construía uma simpatia pelo herói da revolta mineira. De Tiradentes pouco se sabe, seu rosto hoje estampado nas fardas das policias militares (na policia de Minas Gerais sem barba, na do Espírito Santo barbudo), desapareceu “... com a cabeça, que a mando das autoridades foi separada do corpo; perdeu-se quando os olhos que o viram vivo também deixaram de ver. Por isso cada um tratou de criar seu próprio...

SEVERINOS

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A história política em uma determinada época procurava explicar o mundo através dos feitos de uma só pessoa eram os chamados “vultos históricos”. Esses personagens históricos por natureza apareciam em vários livros na década de 1970 e muitos de nós acreditaram que tudo aquilo era verdade. Era uma história construída de heróis cuja personalidade produzia eventos e por si dirigiam o trem da história. Hoje quando no teatro político aparecem personagens que a maioria da população brasileira desconhece, há uma busca por entender como nasceu o personagem e qual a sua representatividade no teatro político, o personagem da vez é Severino José Cavalcanti. Mas, “... para compreender completamente os discursos políticos que são oferecidos no mercado em dado momento e cujo conjunto define o universo do que pode ser dito e pensado politicamente (...) seria preciso analisar todo o processo de produção dos profissionais da produção ideológica (...) que os designa para estas funções e a...

DESARMAMENTO E CULTURA DE PAZ

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Termo de Fiança datado de 29 de maio de 1873 mostra que para um comerciante capixaba tornar-se vendedor de armas de fogo e de pólvora, precisava apenas da ajuda de dois fiadores e deslocar-se até a delegacia solicitando ao chefe de policia autorização para vender pólvora, armamentos, munição e inflamáveis em seu comércio. O comerciante assinava a documentação comprometendo-se a não vender os artigos a menores e pessoas suspeitas, para evitar perder a autorização e ser, também, responsabilizado pelas consequências oriundas da venda. Já outro documento de 20 de dezembro de 1909, demonstra como era controlada a venda de armas na época, autorizava um comerciante a vender “durante o corrente anno, em sua casa comercial (...) pólvora, armamento, munição e outros inflamáveis, obrigando-se a não expor à venda mais de 100 kg de chumbo e 40 espingardas de caça.”, alertando sobre a venda a menores e a pessoas suspeitas. Os termos de fiança se foram com o tempo e hoje com o Estatuto d...