ESCOLAS CARANDIRU
























Muros altos, guardas no portão, sirenes tocando, grades por todos os andares, vídeos e televisores dentro de uma gaiola de ferro com um grande cadeado, o que descrevo não é um presídio, mas sim uma escola.  A sala dos pedagogos parece mais uma delegacia onde as “ocorrências” de indisciplina ou de violência são relatadas. As punições tornam-se também similares ao do meio policial: advertência, suspensão, transferência e expulsão. Os alunos punidos juntam-se em outra escola, já que a anterior preferiu não resolver o problema ou já tentara todas as soluções, como chamar os pais, conversar com a criança ou adolescente.

Na verdade, a solução não se encontra dentro da escola, mas nas outras entidades que poderiam realizar junto com a escola um trabalho de “ajustamento” desses alunos. Mas na maioria das vezes o que vemos é que os desajustados são encaminhados para outra escola, assim a escola anterior livra-se de um problema, enquanto outra escola recebe o novo aluno, de posse da “ficha de antecedentes”, contando novamente com sua derrota.

A transferência, às vezes, pode ser a solução, quando a direção da escola já tentou todos os recursos existentes e não conseguiu resolver o problema. O que é chamado de “expulsão branca”, que é nada mais do que uma transferência forçada para uma escola onde o aluno não se reencontrará de forma alguma, pois as dificuldades de recuperação (sim de melhora de notas e comportamento) serão piores. Assim, ao invés, de solução para a família, os pais veem seus filhos indo para uma escola onde a desorganização é maior do que a anterior e onde seu filho ao invés de melhorar seu comportamento, irá aprender com os novos amigos (delituosos) novas formas de afrontar as instituições de sociabilidade. 

A comparação com as prisões não é pura metáfora é a descrição de um ciclo que se repete semelhante ao ciclo dos criminosos que ao adentrarem as prisões não se recuperam, mas aperfeiçoam e tornam-se mais perigosos com seus “mestres” e “doutores” que lhes ensinam novas técnicas de um empreendedorismo bandido.

Mas nem sempre as instituições são culpadas, muitas vezes os pais não acreditam no professor/pedagogo e nem na direção da escola, fazendo com que a transferência do seu filho seja feita imediatamente, ou seja, muitas vezes são os pais que não conhecendo o comportamento dos seus filhos acabam por culpar a escola, fechando os olhos para o seu comportamento violento e indisciplinar. No fim é a própria escola quem vai ter que resolver o desajustamento desse aluno, mas o que vemos é que esse desajustamento é reforçado pelas escolas Carandiru.

As escolas que tem como modelo uma prisão, onde a direção não foi eleita pela comunidade (foi imposta, por isso é questionada), onde não há uma participação dos pais no planejamento pedagógico, onde os professores são transeuntes (passam um ano e vão embora), onde as normas se apresentam não como um contrato, mas como uma imposição e sem discussão, tornam-se um modelo de fracasso e de desestímulo aos alunos que ali deveriam desenvolver competências. 

Essas escolas além de um baixo nível de envolvimento com a comunidade tendem a se tornar dentro dela uma ilha, ás vezes, por culpa dos próprios gestores, outras vezes pela própria comunidade que não vê a escola como sua, mas somente do Estado. E assim, por entenderem que a escola não lhes pertence insurgem contra ela de duas maneiras básicas: a primeira: tornando-a motivo de luta política e a segunda afastando-se dela. Em ambos os casos a corda arrebenta na mão do aluno humilde que não tem condições de ingressar em uma escola que desenvolva suas competências e torne-o cidadão e individuo que possa compreender o mundo em que vive e lutar por seus direitos dentro de sua comunidade. 

Há uma diferença do comportamento dos pais quando seus filhos estão em uma escola pública e quando passam a uma escola particular: na particular, aquele pai que não tinha envolvimento com a escola pública, muda seu comportamento e acompanha o desenvolvimento do seu filho incentivando-o, ou seja, na escola particular onde ele sente o quanto gasta, os pais tendem a se tornar mais participativos, por que o que dói no bolso (como se a escola pública não tivesse dinheiro deles) não pode doer-lhes na consciência.

Para que o “modelo Carandiru” não se torne um modelo padrão, deve-se primeiramente buscar-se a gestão democrática, onde diretores sejam eleitos pela comunidade, onde haja participação do Conselho Escolar e Tutelar, onde o corpo docente seja uma equipe homogênea e duradoura. Devem-se buscar mudanças que deem ao aluno não mais muros e grades para transpor, através da violência e da indisciplina, mas competências que permitam que olhe o mundo sem as grades de uma grande prisão, mas sim como realmente ele é.

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