OS ESCÂNDALOS DAS PREFEITURAS E A BUSCA DA POLÍTICA


A saída de Antônio Palocci do governo só vem mostrar no plano macro o que vem ocorrendo em pequenas gotas em todo o país: corrupção, dinheiro público mal utilizado, obras feitas pela metade, prefeitos eleitos por grupos de empresários que depois cobram o preço da eleição, vereadores que não compreendem o seu verdadeiro trabalho e não supervisionam os prefeitos, tribunais de contas presos a cargos políticos, vice-prefeitos que não tem vínculo nenhum com quem lhe elegeu e por isso nem aparece na prefeitura, etc.
O que poderia mudar isso seria uma reforma política consistente. Para isso deveríamos discutir como deve ser o financiamento da candidatura, colocar limites na utilização do capital via doações, fiscalização mais forte do TRE e principalmente acabar com o sistema de voto atual que faz com que grupos se alternem no poder, mas renovação quase nenhuma é possível. 
Se o voto distrital fosse utilizado teríamos a quem cobrar e por consequência o eleito pensaria duas vezes antes de utilizar meios ilícitos para se eleger.Não acredito que em nosso país o voto em lista seja o melhor, pois beneficiaria os velhos caciques que se manteriam mais ainda no poder, impedindo as classes populares de renovarem suas lideranças nascidas de lutas "pé no chão". A reforma política se arrasta no Congresso e algumas mudanças já poderiam ser experimentadas a partir das próximas eleições. O que não podemos é continuar com os velhos e manjados truques e artimanhas políticas, onde o mandonismo principalmente nas áreas mais pobres do Espírito Santo ainda predomina Basta para isso analisar os municípios que tiveram problemas nas prefeituras ultimamente: Apiacá, Pedro Canário, Jaguaré, Rio Novo do Sul, Santa Leopoldina, Fundão, Iconha, Aracruz e Viana.
Quanto mais perto da Grande Mídia e do centro do poder, mais há vigilância e cobrança da sociedade organizada (e da mídia), a prestação de contas à sociedade é mais rápida além de ser cobrada a transparência, ocorrendo menos chance de corrupção. No interior, principalmente nos municípios mais pobres e dependentes do governo estadual, a fiscalização corre mais frouxa, sendo necessária a intervenção das promotorias e de juízes, pois a população quase não se organiza para a política local.
Esse processo de mistura entre o público e o privado onde as prefeituras são colocadas como projetos de grupos para se enriquecerem ocorre desde a criação sem necessidade de muitos municípios, principalmente a partir de 1988, para satisfazer os mandões locais. Muitas delas são desnecessárias e mal se sustentam tanto politicamente quanto financeiramente. São municípios pequenos e que dependem da maioria do capital do Governo Estadual ou da União, dos royalties, por exemplo, e que sem os repasses não conseguem sobreviver.
Ao mesmo tempo a compra de votos e abuso de poder observados nos municípios citados são resultados de uma crise não só do nosso federalismo, mas também de resquícios da Velha República e do que Da Matta cunhou em seu livro "Carnavais, Malandros e Heróis": o jeitinho brasileiro, o “você sabe com quem está falando”?
No século XXI a pobreza intimida a população de votar sem estar "no cabresto", acordos a luz do dia são traçados para locupletação do público. A mistura entre o que é público e privado, os interesses difusos terminam no que vemos atualmente: Vereadores que compram votos, prefeitos que abusam do poder e utilizam a máquina para se reeleger; licitações fraudulentas e por fim clientelismo. 
Sem uma reforma política amplamente discutida com a sociedade (e que ela compreenda o valor dessa mudança) continuaremos a ver maus exemplos de gestão pública e mais escândalos fechando prefeituras, além da amalgama da sociedade ficar cada vez mais longe da política, como nos ensina Bauman(Em Busca da Política, 1999), sendo mais fácil se juntarem para enfrentar um pedófilo do que para lutar pelo seu lugar na ágora.

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